Atilio A. Matozzo
Coordenador do Grupo GenTE
Quando lemos ou escrevemos um texto nunca pensamos a qual gênero pertence, apenas fazemos a ação de ler ou escrever, pois o gênero (entenda, aqui, texto = gênero) está em nosso subconsciente, assim temos a noção quase que exata do que estamos fazendo, desde que eu conheça o gênero, já tenha tido um contato com ele. Até aí tudo bem, podemos nos perguntar para que estudar os gêneros então, já que está em nosso subconsciente? Vale lembrar que nem sempre tivemos/temos o contato com determinados textos, como uma ata ou um edital, por exemplo, como seria a sua forma? E o seu propósito? Não são textos que circulam em todas as comunidades discursivas, eis o rascunho de uma resposta do para que estudar os gêneros.
Mas uma resposta mais profunda poderá ser encontrada nos escritos de Mikhail Bakhtin (2003), quando este relaciona toda a produção de enunciados aos gêneros do discurso, ou seja, cada enunciado se encaixará a um determinado gênero, assim, chegaremos a números infinitos de gêneros. Para Marcuschi (2006) todo texto se dá em forma de gêneros, logo nossa produção, oral e/ou escrita, será um gênero.
O estudo dos gêneros marca na Lingüística Textual (LT) uma nova era, pois, muitos lingüistas da LT mais tradicional estão desenvolvendo pesquisas na área de gêneros, citemos como exemplo Ingedore Villaça Koch, que hoje está se dedicando aos estudos dos gêneros, com obras recém publicadas na área (Ler e compreender: os sentidos do texto, editora Contexto, 2006 e Intertextualidade: diálogos possíveis, editora Cortez, 2007), sabemos que o seu forte está na linha tradicional da LT.
Na obra Ler e compreender: os sentidos do texto, Koch faz apontamentos básicos sobre a teoria dos gêneros, podemos notar até uma certa repetição de tudo o que já foi dito por outros pesquisadores da área, nesta obra encontramos um capítulo destinado à relação intergenérica, ou intergêneros, o problema é que a obra apresenta esta relação como sendo a mesma coisa que hibridismo (teoria de Marcuschi, 2002), vemos, então, uma grande mistura e confusão, pois não é bem assim. Porém, na obra Intertextualidade: diálogos possíveis, Koch revê as colocações feitas sobre intergêneros na obra Ler e compreender e refaz esta teoria, de forma mais convincente, já que vem marcado com uma posição teorica mais expressiva. Essas mudanças realizadas por Koch (2006 e 2007) mostram que a pesquisa/estudo em torno do texto sempre devem estar num continum, partindo sempre de um padrão lato sensu para um stricto sensu, assim, os resultados e provas serão mais memoráveis e satisfatórias.
Sabemos que os textos sempre estão em constante evolução, logo, todo e qualquer estudo para aqueles que trabalham com o texto é de suma importântica, pois não há estudo sem estudiosos e estudiosos sem um profundo estudo.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.